quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reflexão Inicial

Durante minha vida, não consigo me lembrar de momentos onde meus cabelos tenham sido livres. Sinceramente, acredito que passei a minha infância, adolescência e parte da vida adulta aprisionada aos salões de beleza para realizar procedimentos do tipo: permanente, relaxamento, hidratações, escovas, chapinhas e as mais variadas nomenclaturas inerentes ao trato com os cabelos. Vivenciei todos os tipos de novidades e modismos. Acho que só não aos “megas” e as tranças.

Cabelo sempre foi algo que mexeu comigo das mais diversas maneiras. Quando era pequena, eu e meu cabelo crespo éramos constantemente assediados a dar o “permanente” para diminuir o volume. Ali começava minha escravidão. Mulher negra, filha de negro e refletindo a diversidade peculiar que formou o povo brasileiro, também sou bisneta de portugueses por parte de minha querida mãe, onde a maioria das mulheres possuem cabelos lisos ou encaracolados e lindos. O meu? Duro! Ressalto que essa era a minha referência. Diziam que meus cabelos eram duros. Morando na bela e inebriante Salvador, no estado da Bahia, não escapei das músicas: “é de pixaim, é de pixaim, cabelo duro, de pixaim” ou “nega do cabelo duro, que não gosta de pentear, quando passa na baixa do tubo, o negão começa a gritar. Pega ela ai, pega ela ai”. Meu pai, toda a minha vida disse que eu me negava, que queimava meus cabelos, negando minhas origens. Negando meu amado e querido pai! Era uma brincadeira com um grande fundo de verdade. Ele sempre esteve certo, e eu sabia disso! Mas nunca tive coragem de romper com a lógica que afirma (sub-repticiamente) serem os cabelos lisos os que de fato devem reinar nas cabeças femininas. Completamente aprisionada, durante meus 28 anos, fui escrava dos meus cabelos.

Até tentei, duas vezes, resgatar o meu verdadeiro cabelo. Na primeira tentativa, tinha acabado de entrar na faculdade e cortei bem baixinho, no popular, “Joãozinho”. Fui a uma dermatologista, por indicação de uma colega, que havia conseguido maravilhas com os cabelos após cuidar destes com um profissional da área, ou seja, longe dos salões de beleza tradicionais. Segui com o tratamento, mas não resisti. Sentia-me feia, sem graça e afastada de mim. Nem queria ir para aula. O que aconteceu? Relaxei os cabelos. O pior é que ficaram horríveis, pois a cabeleireira e o produto eram péssimos. Mas minha vida seguiu e continuei escrava dos cabelos.

Eis que no ano de 2005, resolvi, novamente, dar uma chance aos meus cabelos. Fui à mesma dermatologista, que me perguntou se eu aguentaria daquela vez. Imaginava que sim, afinal, não era mais nenhuma adolescente. Estava difícil de prosseguir, mas fui continuando. Até que eu soube que meu apelido era “capacete”. Isso mesmo, CAPACETE! E ai, mais uma vez, sucumbi. Relaxei o cabelo... Sentia-me tão frustrada, tão impotente. Era minha autoestima que estava arrasada. Nessas idas e vindas, encontrei uma excelente cabeleireira, a qual cuidou de meus cabelos escravos até o corrente ano de 2012. Até...

Eis que no ano de 2013 me tornarei uma balzaquiana. Não nego que me assusta um pouco. Percebendo isso, senti a necessidade, vejam, mais uma vez, de me descobrir. A maturidade que hoje me acompanha, permitiu refletir e ver que estou cansada da escravidão, da prisão que institui para mim mesma. Resolvi que irei deixar meus verdadeiros cabelos se tornarem livres. Que eles sejam aquilo que desejarem ser! Aquilo que minha genética me delegou. Quem vai me ajudar na luta e nesse processo será a mesma dermatologista, a Dra. Aline Pontes. Adoroooooooo!!!! Ela disse que não vai me deixar abandonar. Todo apoio moral será bem vindo.

Para fazer esse acompanhamento, resolvi escrever este blog. A duração dele será relativamente curta, inicialmente, apenas 1 (um) ano. Durante este tempo, irei postar algumas fotos de momentos da libertação. Sei que será muito, muito difícil, afinal, são 28 anos a ressignificar. E os meus (?!) cabelos lisos deixam meu rosto bonito, sempre achei isso. E não nego que me pergunto: e seu eu não gostar, o que farei? Não sei. Fiz uma escolha e prefiro viver o meu caminhar em sua plenitude. O futuro me dirá o que irá acontecer...

Sendo assim, esse primeiro momento é o mais difícil, afinal, a raiz está loucaaaaaaaaaaaaaaaaaa, desesperadaaaaaaaaaaaaaaa. Se eu tirar um foto, só aparece ela. Nada mais! A danana adora aparecer. Mas vá lá, são anos de pressão, tadinha. Espero ter força, maturidade e paciência (ó céus!) suficientes para completar a jornada que irei trilhar a partir de agora.

Irei postar os caminhos do tratamento, fotos, vídeos, curiosidades, insanidades e tudo mais que, relativo às minhas madeixas, acredito que serão importantes ao longo do processo.

Quem sabe, a partir da minha história, não inspiro outras mulheres a fazerem o mesmo? Acompanhem os próximos capítulos...

3 comentários:

  1. Não sou de dar conselhos, caso o fizesse diria: Tuca, faça tudo para ser feliz, não sofra, o espelho é um algoz, está sempre a nos dizer que algo não está bom, que poderia ficar melhor, por isso, dificilmente ficamos satisfeitos ao encará-lo, todos somos vaidosos, até os que dizem que não são, já que esta é uma forma de mostrar sua vaidade, ou seja, vaidoso por não ter vaidade, rsrs...Esqueça as ironias do seu pai, quanto aquele negócio de negação, você sempre será amada independentemente da escolha capilar...você é um dos seres humanos mais lindos que conheço...

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    1. Meu querido pai, ninguém melhor do que você para iniciar os comentários. Na realidade, sei que o espelho será o meu maior vilão, por assim dizer. Mas estou bem tranquila, diria que bem disposta, inclusive!!! Tomei essa decisão por conta do cansaço, mesmo. Não quero mais ser escrava dos cabelos. É algo que desejo fazer, por mim mesma. Se no meio da caminhada não der certo, o que pode acontecer, recomeço de outra forma. Mas não tenho a intenção de entender esse processo como uma obrigação. Vou deixar acontecer. Estou mesmo fazendo uma escolha capilar. Vamos ver no que vai dar kkkkkkkkkkkkkk
      Também te amo, viu?

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  2. Lindo seu blog! Isso mesmo se liberte e seja feliz, somos muito mais que essa casca que nos envolve! Sei que a pressão consumista e os padrões de beleza não são fáceis, mas temos que sempre lembrar do nosso objetivo principal: de sermos pessoas melhores e para o túmulo só levamos o que cabe no coração! Grande abraço e parabéns pela coragem! Marta - TC Minas Gerais

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